Seu Jorge no Multiusos de Guimarães
07 - mar. - 16
Portugal e Seu Jorge: Não deu para ficar sentado! – A reportagem do Multiusos de Guimarães
Seu Jorge
O invulgar trânsito nos arredores do Pavilhão Multiusos em Guimarães deixava antever o que viria a ser a noite. A expectativa era grande, afinal Jorge Mário da Silva, compositor, cantor, multi-instrumentista e ator, mais conhecido no mundo da música por Seu Jorge, tinha prometido que no regresso ao nosso País iria proporcionar um espetáculo diferente do habitual.
Além disso, havia um fator extra: Diretamente do Brasil, trazia consigo Marisa Monte, uma das mais acarinhadas cantoras por parte das gentes portuguesas.
Assim, não foi de estranhar que às 22h20m, num pavilhão repleto onde, contrariando a tendência habitual, foram meticulosamente alinhadas filas e filas de cadeiras para que todos os presentes assistissem ao espetáculo sentados, houvesse já alguma impaciência. Afinal de contas passavam já 20 minutos da hora agendada para o espetáculo.
Mas foi nesse instante que, num palco iluminado por tonalidades azuis, contrastando com umas letras enormes e vermelhas aonde se lia o nome do artista, que este, acompanhado de mais 12 músicos, pisou o palco do recinto e recebeu a primeira grande ovação da noite.
De óculos de sol escuros, iniciou o concerto com o tema “Ela é bipolar”, do mais recente trabalho “Músicas para churrasco – Volume II”, com a sonoridade funk ritmada que lhe é caraterística.
Daí para a frente, a toada manteve-se por mais de meia hora em temas como “Mina feia” e “Vizinha”, ritmos enérgicos e contagiantes, debitados pela percussão e por um saxofone pujante, que tornaram difícil a tarefa de manter sentados as milhares de pessoas que nessa noite fria e chuvosa ali se deslocaram. Havia demasiada energia no ar, havia demasiado ritmo, não iria ser fácil…
Um dos momentos altos da noite surgiu quando, já sem óculos de sol e sozinho em palco, com uma luz (ainda azul) ténue sobre si, declamou poeticamente, num turbilhão de emoções e quase de forma teatral, enquanto se ouviam sirenes e tiros, “Negro drama”, do grupo de RAP brasileiro “Racionais MC’s”, numa constante alusão à miséria, violência e crime vividos na periferia da cidade de São Paulo. Foram mais de 10 minutos de intensa magia que culminaram com uma grande ovação.
Depois, já com a banda de volta ao palco, protagonizou outro dos momentos mais marcantes da noite, num tema instrumental aonde o próprio, de costas para a plateia, foi o maestro, coordenando todos os músicos, ora na percussão, ora no sopro, ora nas cordas. O público, completamente contagiado, acompanhou com palmas ritmadas e frenéticas.
Mas o melhor ainda estava para vir…
Dobrada a primeira metade do espetáculo, Seu Jorge chamou a tão aguardada Marisa Monte, levando a multidão ao rubro. E quando a cantora e compositora entrou no palco, singela, jovial, num vestido alaranjado, houve mais uma grande ovação. Ela, enternecida, agradeceu aos Vimaranenses, retribuindo com os temas “De noite na cama”, um original de Caetano Veloso, “Dança da solidão”, “Eu sei”, “Passe em casa” e, o mais aguardado da noite, cantado em uníssono pelo pavilhão inteiro, acompanhado por um banjo dedilhado na perfeição pela artista, “Amor i love you”!
Depois, Marisa agradeceu e despediu-se sob uma forte salva de palmas. Nessa altura, volvida mais de uma hora e meia de espetáculo, as surpresas continuaram com Seu Jorge que, sozinho em palco, munido de uma guitarra acústica, entoou um melódico “Meu amor não estamos sós, Tem um mundo a esperar por nós, No infinito do céu azul, Pode ter vida em Marte”, numacover de “Life on Mars” de “David Bowie”, soberbamente interpretada.
Depois, foram canções e mais canções, com a contagiante e habitual energia, cheirinho a samba, funk, jazz e bossa nova. Temas como “Everybody loves the sunshine”, “Amiga da minha mulher”, “Tive razão” e, para terminar, “Felicidade”, levaram o pavilhão, repleto, ao êxtase, enquanto dois ecrãs colocados estrategicamente de cada um dos lados do palco exibiam imagens do músico, enérgico e incansável, até se despedir após mais de duas horas de espetáculo.
Mas ainda não iria ficar por ali!
No encore, o músico brasileiro, munido de um cachecol de Portugal, regressou para mais quatro temas e, aí, a multidão não conseguiu conter-se por mais tempo. Quase em simultâneo, os espectadores, com o acumular de tanta energia reprimida imposta pelos lugares sentados, saltaram das cadeiras e libertaram-se. Dirigiram-se para bem pertinho do palco para ver Seu Jorge mais de perto e, com ele, ao som de “Mina do condomínio”, “Carolina”, “Burguesinha” e, por último, “Mas que nada”, dançaram, pularam e cantaram, transformando o final do concerto num forrobodó, bem ao jeito daquele a que o povo do outro lado do Atlântico nos habituou!
Balanço feito, foram quase três horas de espectáculo, mais de 30 canções e, para todos os que estiveram presentes, uma noite memorável!
Texto: Nuno Samões
Fotos: Pedro Gama