ENTREVISTA SOBRE O DIA MUNDIAL DA DANÇA
26 - abr. - 18
Irina de Oliveira, bailarina da Companhia Nacional de Bailado (CNB), fala-nos da sua relação com a dança e com a música, naqueles momentos em que “parece que a partitura ganha vida”.
Apresenta-nos a sua companhia e deixa-nos propostas que não podemos perder na programação do CNB!
DIA MUNDIAL DA DANÇA
“A dança é poética. É uma arte onde há espaço para outras formas artísticas”
A Companhia Nacional de Bailado foi criada em 1977. O que destacaria nestes 40 anos de história?
É difícil destacar momentos concretos porque acredito que a história da CNB é um caminho que continua a ser desenvolvido ao mesmo tempo que vai consolidando objetivos.
Depois do ano inicial talvez se possa destacar o ano de 2002, altura em que a companhia passa a habitar o Teatro Camões e a ter uma sala própria. Penso que esta conquista foi importante para a CNB e também para o Teatro Camões. Mas claro que há muito mais para destacar em 40 anos... é uma vida.
Das coreografias que interpretaram, quais as que mais vos marcaram?
Cada bailarino terá as suas. Umas pelos desafios técnicos, outras por nos permitirem interpretar personagens e histórias de vida e outras ainda, não pelo resultado final, o espetáculo, mas por todo o processo em que por vezes nos conhecemos ou até superamos os nossos limites, crescemos enquanto pessoas e artistas.
No meu caso destacaria a personagem Myrtha do bailado Giselle e o bailado iTMOi – In the Mind of Igor, de Akram Khan.
Se pensar em algo que tenha feito que também seja uma referência para a companhia destacaria Pedro e Inês, da coreógrafa Olga Roriz.
De que forma é que a vossa companhia alia o bailado à poesia, e até ao cinema?
A dança também é poética e é sobretudo uma arte onde há espaço para outras formas artísticas o que nos permite, enquanto artistas, desenvolver diferentes valências.
Nos últimos anos, a direção artística associou à sua programação algumas poetisas e desenvolveu atividades que pretendiam juntar o público através da dança e da poesia.
Também já tivemos projetos em que o cinema marcou presença, estou a lembrar-me de La Valse, a célebre obra de Debussy que o Paulo Ribeiro (atual diretor artístico) coreografou e que teve realização do cineasta João Botelho. Em 2016 a companhia estreou também um filme, No Escuro do Cinema Descalço os Sapatos, da Cláudia Varejão. Uma obra com uma vertente mais documental sobre a companhia.
Quais os espetáculos da CNB que destacaria na próxima temporada?
Neste momento apenas foi divulgada a temporada até dezembro.
Destacaria o possível regresso de iTMOi de Akram Khan que de alguma forma acaba por ter ligação com o programa seguinte, uma noite com duas obras de Stravinski, A Sagração da Primavera e As Bodas.
O regresso de O Quebra-Nozes de Mehmet Balkan que, na minha opinião é uma versão mágica na qual, não só as crianças mas também os adultos são transportados para um mundo de fantasia.
Os bailarinos portugueses são tão reconhecidos como os estrangeiros? Ou ainda há um caminho a percorrer?
A arte tem que ser reconhecida independentemente da nacionalidade de quem a interpreta.
O que gostaria de ver era o compromisso do público para com a CNB. Que sentissem orgulho e carinho e que soubessem do enorme talento e vontade de fazer mais e melhor a cada dia para nos apresentarmos como um marco de qualidade. Que sentissem que a CNB os representa e que a sentissem como sua.
A dança está para o nosso corpo, como a música para os nossos ouvidos?
A dança quando aliada à música pode ser impressionante. Há momentos em que parece que a partitura ganha vida.
Eu não sou música, não sei como é estar a interpretar uma composição ao mais alto nível. O que posso dizer, enquanto bailarina, é que quando danço entro num mundo paralelo, numa espécie de transe mágico… é muito mais que corpo/físico (todos os sentidos), é uma entrega.
Dançar é…
Dançar é uma entrega e um enorme privilégio, um prazer.
Irina de Oliveira, Bailarina da Companhia Nacional de Bailado